* Clique sobre imagem ou título para visualizar a galeria do ensaio.
Este ensaio parte de um questionamento a respeito da permanência.
Diante da fotografia, com tantas camadas e interferências, o que de nossa memória realmente nos resta? Que vestígios de nossa passagem pelo mundo podem ser registrados pela câmera? O que muda na relação que se dá entre o que temos marcado em nós através de nossa própria vivência, com o que experimentamos pela lembrança trazida - talvez simulada - ao observarmos uma imagem fotográfica? Qual a duração e validade dessa informação registrada em uma fotografia?
Utilizar o artifício fotográfico como tentativa de apropriar-se de um tempo passado parece ser recorrer a um suporte tão frágil quanto a nossa própria memória.
Na tentativa de relembrar momentos distantes, às vezes nos vemos diante de uma tempestade de pensamentos e imagens mentais, com rostos de contornos vagos em lugares imprecisos, navegando pela nossa consciência, mas sem que possamos afirmar o que foi real e o que foi construído pela nossa imaginação.
A ausência de sentimento de coletividade, gerada pelas diversas circunstâncias que cercam os indivíduos, promove um sentimento profundo de solidão, de abandono à própria sorte. E, para se defenderem desta condição, estes indivíduos (eu, você, nós) criam instrumentos que afirmam e ampliam seu isolamento, dilatando suas angústias e desconfortos frente às ameaças que encontram no Outro (ou parecem encontrar). Constroem-se barreiras materiais e psicológicas, abstratas e concretas.
No concreto, entre muros e grades, surge a arquitetura do medo, arquitetura desenvolvida não para melhor usufruir do espaço, mas para impor limites, gerar fronteiras. Assim, limitar o outro mas também limitar-se: espaço-limite. E, na impossibilidade de contato com o outro, não é preciso temer a ninguém. Só a si mesmo.
Maína Fantini. São Paulo, 2013.
* Texto de abertura da exposição individual Medo e Incerteza na Cidade, realizada em oGangorra + Las Magrelas em São Paulo, em outubro de 2013.