Criar artesanalmente é resistir!
- 15 de jul.
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Atualizado: 22 de set.
Vivemos em um mundo e em uma lógica de ser cada vez mais digitais, automatizados e velozes, não é novidade. Nele, o trabalho artesanal, manual, ganha enorme relevância, pois representa um contraponto à lógica da produção em massa e da virtualização das experiências e dos encontros. Ao envolver tempo, atenção e presença, o fazer manual nos reconecta com ritmos mais lentos, processos mais sensoriais, e valores como paciência e dedicação. Em sua recepção, os frutos do trabalho manual nos convidam à observação cuidadosa e podem oferecer experiências sensíveis, resgatando e construindo novas memórias, afetos e conhecimentos.
Cada peça feita à mão carrega em si as marcas do gesto individual, os rastros do estar-ali do artista, do tempo investido, das suas escolhas técnicas e materiais, dos cruzamentos interdisciplinares, ou seja, a presença criativa e um pedaço da trajetória de quem a produz. Isso confere à obra artesanal originalidade, identidade única, impossível de ser replicada com exatidão mesmo por quem a criou. Essa autenticidade contrasta com a repetição mecânica e o design genérico amplamente disseminado pelos meios digitais e industriais.
Além disso, o artesanal carrega saberes tradicionais e narrativas culturais —frequentemente reinventados na experimentação criativa. Pode ainda valorizar o uso consciente dos materiais, a economia local e o cuidado com os processos, indo na contramão do trabalho sem cuidado com o trabalhador, do descarte e da obsolescência programada.
Por fim, o fazer artesanal é uma forma de resistência e afirmação de identidade: uma maneira de ocupar nosso lugar de forma autêntica, nos devolvendo sentido, humanidade e presença.
"Tudo isso nos leva ao tempo de construção da obra. Um tempo que tem um clima próprio e envolve o artista por inteiro. O processo mostra-se, assim, como um ato permanente. Não é vinculado ao tempo do relógio, nem a espaços determinados. A criação é resultado de um estado total de adesão.
(...) O tempo é, por sua vez, o grande sintetizador do processo criativo que se manifesta como uma lenta superposição de camadas.
O crescimento e as transformações que vão dando materialidade ao artefato, que passa a existir, não ocorrem em segundos mágicos, mas ao longo de um processo de maturação."
Cecília Almeida Salles, em O Gesto Inacabado, 2004, p. 32.





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